A região do Lajedo de Soledade, no Rio Grande do Norte, é famosa não só pelas belezas naturais, mas também pela importância histórica. O entorno do município de Apodi guarda uma laje de calcário de aproximadamente um quilômetro quadrado. Neste local existe um conjunto de abrigos sob a rocha e dezenas de pinturas rupestres e fósseis, que compõem grande parte da atração turística do local.
Este local de paisagem bela e arte rupestre encantadora é também a mais de 50 anos o ganha pão das dezenas de famílias que se alimentam, compram remédios e tentam dar aos seus filhos e filhas uma educação melhor.
É considerável falar que hoje o crescimento e desenvolvimento da comunidade de soledade foram possibilitados principalmente pela atividade da extração do calcário no lajedo, tendo em vista que o trabalho de conscientização em relação a necessidade de preservação do mesmo é recente, pouco mais de 15 anos.
Visitando recentemente o sitio soledade, encontrei pessoas que sobrevivem da atividade de extração do calcário, e que lamentavam e muito o momento de proibição da retirada de pedra na região e também próximo. Ora, essa lamentação não é de causar espanto, pois o que responder ao pai de família que por toda a sua vida teve o seu ganha pão proveniente de tal atividade, e que depois de adulto e constituir família ainda continuar tirando o seu sustento das pedras quebradas com esforços diários debaixo do sol e que de repente essa atividade é impedida? No pensamento deles, foi grosseria de minha parte responder o quanto um patrimônio histórico precisa ser preservado, e o quanto a comunidade cientifica necessita do lajedo de soledade para seus estudos e pesquisas de fósseis animais que viveram a mais de 50 milhões de ano no local!
Tão tremenda foi a resposta que recebi: “porque preservar animais e pinturas de milhões de anos, se não são capazes de preservar e melhorar a nossa vida na comunidade. Não é de fosseis e pinturas que me alimento, mais do suor de meu trabalho nas pedras, único que aprendi!”.
Hoje muitos pais de família estão ausentando-se de suas casas e da própria comunidade para tentar ganhar o pão de cada dia, o que tem sido uma grande dificuldade. Além de pensar no lajedo, pensemos também nas famílias de soledade, pensemos então no financeiro e acima de tudo no lado psicológicos dos pais que deixam o aconchego da família e o “conforto” do lar para não passar fome, para comprar o seu remédio, para ter o seu “lazer”.
Eu não defendo degradação do patrimônio ambiental do lajedo de soledade, pelo contrario luto e muito para que ele seja preservado. No entanto defendo que o povo de soledade seja alvo de políticas publicas que atendam as necessidades do mesmo. Pois antes de tudo deve-se preservar a vida
Reconhecer o valor científico, histórico e cultural das áreas rochosas chamadas Urubu, Araras e Olho D'água é sem dúvida muito importante, conhecer as necessidades das famílias de soledade é fundamental.
Que o poder público de modo geral saiba trabalhar essa questão com muito respeito e com o compromisso de garantir ao povo de soledade o direito básico: qualidade de vida.
O lajedo e o povo de soledade merecem...
Elielma Sousa
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