Libertação dos mineiros após desmoronamento pode demorar quatro meses. Médicos dizem que a capacidade de adaptação do corpo impressiona.
Do G1, com informações do Bom Dia Brasil
Depois da comemoração pela notícia de que os 33 mineiros presos há 19 dias em uma mina no norte do Chile estavam vivos e bem de saúde, o foco da preocupação se torna o planejamento para mantê-los vivos pelos quatro meses que o resgate deve levar para chegar até eles e libertá-los do cubículo a 700 metros de profundidade. Médicos dizem que a capacidade de adaptação do corpo humano é impressionante.
Serão quatro meses de espera, o tempo previsto para construir um túnel e resgatar os 33 homens presos dentro de uma mina que desmoronou. Eles estão a 700 metros de profundidade e foram descobertos porque prenderam um bilhete em uma sonda enviada pelo grupo de resgate.
Os 33 mineiros em perfeito estado de saúde, "com muita fome" e desesperados por escovar os dentes, revelou na segunda-feira (23) o ministro chileno da Mineração, Laurence Golborne, após conversar com o grupo por quase uma hora. "Estão bem, não têm qualquer problema de saúde, exceto pela dor no estômago e por muita fome por razões óbvias", disse Golborne. "Pediram comida, escovas de dentes e algo para os olhos", devido à poeira.
Uma câmera gravou imagens de um mineiro. O grupo sobreviveu graças a tanques de água que estavam no local e a canais de ventilação.
Presidente Sebastián Piñera segura recebida de trabalhadores a 700 metros de profundidade em mina no Chile. (Foto: Reuters)Equipes médicas entraram em contato com o grupo por um sistema de comunicação enviado através do duto aberto até o ponto sob a terra, com o qual se estabeleceu a primeira comunicação no domingo, e foi possível constatar "o perfeito estado de saúde de todos", disse a médica Paula Newman, acrescentando que "ninguém está traumatizado".
A comunicação é bastante rudimentar, já que o sistema é baixado e suspenso, o que leva em torno de uma hora. O mesmo duto é utilizado para enviar alimentos e medicamentos. O objetivo imediato das equipes de resgate é enviar três sondas, para o envio de comida, o estabelecimento de comunicação contínua e a ventilação do local.
"Têm problemas muito menores do que poderíamos esperar" após uma permanência de 18 dias a 700 metros de profundidade, submetidos a altas temperaturas e à umidade, explicou Newman, encarregada da operação de sobrevivência.
Sobrevivência
Mas como o organismo consegue resistir a situações extremas como a falta de comida? Para os médicos, não há milagres, a explicação é biológica e está na capacidade do corpo humano de se adaptar por um período a condições tão adversas.
Em casos como o do Chile ou do terremoto no Haiti, o médico Paulo Olzon Monteiro da Silva explica por que é possível passar semanas sem se alimentar.
“Temos uma reserva de gordura e o corpo transforma essa gordura em calorias, em carboidratos que nós possamos utilizar no cérebro, nos músculos e praticamente em todo o organismo. Uma coisa que acaba ocorrendo em uma situação como essa é que as pessoas ficam mais ou menos imóveis. Ficando imóveis, o gasto de caloria é menor, então dá tempo de utilizar a reserva que existe”, destaca o clínico Paulo Olzon Monteiro da Silva.
Já o clínico geral Abrão Curi lembra que sem água, as chances de sobrevivência são mínimas: “Em decorrência da desidratação, com poucos dias, três, quatro ou cinco dias, podem ocorrer alterações no organismo que vão interferir nas reações celulares, ocorrendo em consequência disso fenômenos diversos como confusão mental, torpor, perda da consciência e morte”.
Será que os chilenos vão conseguir passar quatro meses soterrados até o resgate terminar?
“É possível, desde que o local onde eles estejam não sofra desabamentos, desde que a sonda que está servindo para o transporte de alimentos, água e medicamentos se mantenha em boas condições de funcionamento e principalmente oxigenação no lugar”, aponta Abrão Curi.
Os médicos lembram que tem mais chances de sobreviver quem está com a saúde em dia.
“Geralmente as pessoas que sobrevivem nessas situações críticas têm boa saúde ou estão habituados a fazer exercícios ou têm uma condição melhor do que aquelas pessoas que são mais desfavorecidas em termos de saúde”, destaca o médico Paulo Olzon Monteiro da Silva.
Mesmo pessoas magras têm uma reserva de energia. Mas a água é fundamental.
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