[LEIA] Aos Universitários de Apodi

Se fosse época de campanha eleitoral, nós estaríamos de mãos calejadas de tanto aperto, e as costas roxas, de tantos tapinhas e abraços enfadonhos. Porém, não é eleição, e por incrível que pareça nem somos notados, nem comentados, nem mesmo respeitados. Constantemente somos feitos de tolos, quando nos botam de goela abaixo obrigações que não são nossas, deveres que não temos.

Imagine, mais uma vez, nos empurram graciosos aumentos nas mensalidades dos transportes universitários de Apodi, e ai daqueles que não o pague, serão expulsos e excluídos sem nenhuma piedade, como se nos fosse fácil arcar com essas despesas, quando somos pobres, sem nenhuma fonte que a nós seja garantida.

Mais o pior de tudo, é que sempre, aceitamos, sempre nos calamos, e poucos falam, poucos lutam. E os que lutam, há, são chamados de tolos, taxados de babacas, miseráveis ou outros codinomes parecidos, pelo simples fato de não calar, de não aceitar as ordens.

Tolos são os que lutam, ou os que se calam?

Tolos. Mal sabem do poder que temos, mal sabem do que somos capazes se estivermos unidos pela mesma causa, se falássemos pela mesma voz.

Teríamos bem mais que um transporte universitário gratuito, teríamos uma UNIVERSIDADE aqui em nossa cidade, sem que fosse preciso sair daqui para sofrer em outros municípios.

Vejam meus caros, somos um universo de quase 800 mentes brilhantes, mentes cientificas, acadêmicas, pensantes, borbulhantes pelo conhecimento (ou pelo menos devíamos ser).

Temos ao nosso favor mais que nosso intelecto, temos o poder da ARTICULAÇÃO, que é calado pelo nosso medo de lutar por nossos ideias.

Imaginem nosso poder, somos 800 universitários que em média vivemos numa família de 4 pessoas, uma média que totaliza uma ligação direta ou indiretamente de aproximadamente 3.200 cidadãos, mas para os políticos isso significa bem mais, significam 3.200 votos.

Houve uma época em que nesse país, pequenos grupos, conquistaram feitos que renderam benefícios a população inteira, eram pessoas que acreditavam no poder das mudanças, sonhadores que acreditavam que um dia a nação estaria liberta da opressão, que os negros poderiam andar livremente sem amarras e que certamente um dia um deles poderia governar a maior potência do mundo. Houve também quem acreditasse que poderíamos votar livremente e escolher nossos lideres, houve que cresse que as mulheres seriam respeitadas e que possivelmente estariam no mesmo pódio, houve quem acreditasse que as opções sexuais seriam parte do ser, um direito, e não uma doença que devia ser combatida.

Nos calamos porque somos covardes, aceitamos porque temos medo de lutar.

Tolos, ao invés de classe pensante.

Medíocres, ao invés de sábios.

Covardes, ao invés de lutadores.

Lutar pra que?

Para que 3.200 cidadãos apodienses tenham dignidade, e para que 800 universitários tenham um futuro promissor, que talvez futuramente, possa mudar a trágica realidade que hoje vive nosso município, ou não.

É isso que eu penso, e é isso que eu acredito.

E você, no que acredita?

Por Jerlândio Moreira