sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

[Artigo de Opinião] Porque o Fórum de Entidades é tão criticado?


Tentei evitar falar sobre esse assunto, tentei me esquivar de comentar, para que nossos nobres colegas não confundisse tal pronunciamento como babação ou estado de defesa de alguém. Mas lamentavelmente muitas críticas foram dirigidas a esse movimento, advindas talvez de pessoas que nunca tenha se quer participado de algum debate, de algum momento. 

Só estou a comentar, porque eu também sou coordenador de um movimento nascido das lutas do Fórum de Entidades de Apodi, eu mesmo participei em quase todos os momentos das atividades, das lutas e dos debates levantados por esse fórum. Hoje coordeno o Fórum de Juventude de Apodi que nesse ano (2011) passará a atuar em nível de 17 cidades do Sertão do Apodi, que por muitos também é fortemente criticado, e por incrível que pareça, as criticas só vem daqueles que nunca estiveram em nossos momentos de debates, que na verdade não conhece nossos objetivos e metas.

Muitas vezes achamos que por estarmos de frente a um computador digitando e postando mensagens em blog, temos o poder nas mãos, a ponto de podermos dirigir nosso individual ponto de vista, às vezes mesquinho e barato, acerca de determinados fatos, complexos e dinâmicos em nossa sociedade.
A organização social foi e ainda é responsável por grandes avanços políticos e sociais na nossa sociedade, principalmente em defesa de uma grande maioria que vive as margens da politicagem de nosso Estado, massacrada por uma pequena minoria, uma pequena massa responsável pela nossa escravidão ao consumismo, ao paternalismo e as políticas de toma lá, da cá.

Organizamos-nos para lutar por nossos desejos comuns, nos unimos em busca da força para lutar contra qualquer tipo de injustiça e pré-conceito estabelecido por essa sociedade doente pela politicagem exacerbada a que nos encontramos hoje. O Fórum de Entidades e o Fórum de Juventude, assim como o Fórum de Agricultura Familiar de Apodi, têm esses conceitos, trabalham sobre esse foco de ação e todos aqueles que um dia participaram de suas atividades sabem disso.

Mas esse projeto não nasceu em nossa sociedade aqui e agora, a Organização Política Social humana, existe desde que o mundo é mundo.

Já nascemos em organizações sociais que lutam por nossos direitos frente à sociedade. Segundo o filosofo político Aristóteles, “a família é, pois a associação estabelecida pela natureza para atender as necessidades básicas do dia-a-dia do homem”, onde se compartilham e se completam os individua que dela participa. 

Dessa forma meu caro, somos seres com necessidades constantes de organização, já nascemos com esse intuito dentro de nós mesmo, é instinto, tá no sangue.

Os Fóruns, são espaços deliberativos de organização, são espaços de lutas e debates, espaços de enfrentamento, espaços legítimos onde a democracia vale de verdade, onde a verdadeira política acontece.

Antes de criticar os fóruns deveríamos de fato, buscar entender o conceito de movimento social, como esses movimentos são quanto a sua formação, dinâmica interna e seu projeto de sociabilidade. Talvez assim, tivéssemos o direito de estabelecer nosso ponto de vista acerca de tal tema.

Os fóruns não diferem dos núcleos dos movimentos de sem-terra, sem-teto, piqueteiros, empreendimentos solidários, associações de bairro, etc. Os Fóruns municipais também vêm buscando se organizar nacionalmente e, na medida do possível, participar de redes transnacionais de movimentos (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Catadores de Lixo, Movimento Indígena, Movimento Negro, etc.), ou através de articulações inter-organizacionais. Esses fóruns não existem especificamente só em Apodi, basta fazer uma busca em outras cidades e regiões do Brasil, que iremos nos deparar com movimentos bem mais estruturados.

Organizamos-nos em busca da melhoria, de mudar o pré-conceito da sociedade, buscamos mudanças políticas imediatas nessa sociedade doente.

Essa organização pode ser entendida pelo pensamento de GOHN (1995, p. 44): os movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

É nesse aspecto que se insere os novos movimentos sociais, que nasce a idéia dos Fóruns como espaços de organizações de várias outras organizações, essa idéia é finalmente compreendida e esclarecida segundo ILSE SCHERER-WARREN (1996, p.49/50): tem emergido “novos” movimentos sociais que almejam atuar no sentido de estabelecer um novo equilíbrio de forças entre Estado (aqui entendido como o campo da política institucional: o governo, dos partidos e dos aparelhos burocráticos de dominação) e sociedade civil (campo da organização social que se realiza a partir das classes sociais ou de todas as outras espécies de agrupamentos sociais fora do Estado enquanto aparelho), bem como no interior da própria sociedade civil nas relações de força entre dominantes e dominados, entre subordinantes e subordinados.

É nesse aspecto que construímos os Fóruns de Apodi, fica difícil de entender, principalmente para aqueles que não participaram assiduamente de nossos espaços de discussões e agora se acham no direito de elaborar criticas de manchar nossa luta.

Não consigo compreender porque que as pessoas elaboram críticas influenciadas por paixões políticas a esse movimento que em muitos momentos tem colocado a sociedade apodiense em estado de reflexão, tem passado uma idéia libertadora a sociedade, tem contribuído com esse povo em seus momentos importantes de decisão.

Muito se critica o envolvimento político dos lideres desse movimento em campanhas eleitorais, em lançamentos de candidaturas e até mesmo em disputas eleitorais.

Ora meu caro, que mais belo exemplo de ignorância, mais que bela demonstração de paixão partidária e politiqueira que nossos nobres “pensadores” emitem em fazer tais críticas.

Veja meus caros, o que seria mais legível ao nosso discurso, se não apontarmos nossos líderes como sendo uma das únicas opções de mudanças imediatas dessa política praticada hoje pelo Estado?

Que coerência teria em nosso discurso nos debates nos fóruns, se nos calássemos diante de uma oportunidade concreta de estar à frente da possível e tão sonhada mudança no método de fazer política?

Porque é proibido aos líderes de movimentos sociais estarem lançando suas candidaturas políticas?

Acaso nosso método de fazer política seria igual ao praticado hoje no planalto, no congresso, nas câmaras e nas prefeituras?

O que dizer então do Ex-presidente Lula, um sindicalista, lutador dos movimentos sociais, que foi responsável pelas mudanças sociais e políticas desejadas nesse país há anos. Mas lembre-se que ele saiu dos movimentos sociais, que ele também foi muito criticado, mas mesmo assim provou que a mudança é possível, basta as pessoas certas estarem no poder.

Entendemos que nossos líderes de movimentos têm o verdadeiro potencial para se fazer uma política justa, igualitária, com foco no social e no coletivo. Mas muitos de nossos “intelectuais” apodienses pregam que nossos presidentes de associações rurais e de bairros, nossos presidentes de grêmios, nossos sindicalistas, nossos coordenadores de fóruns, nossos coordenadores de grupos só servem mesmo para ser cabo eleitoral ou cargo comissionado, e nada, além disso.

Mas nós entendemos que é legítimo, que é convincente, que é normal que nossos objetivos ultrapassem as fronteiras de nossas organizações sociais. Ora, se apenas por ser um simples coordenador de um fórum, de uma associação podemos de fato mudar de alguma forma a realidade de uma sociedade, então certamente poderíamos avançar para águas mais profundas se tivéssemos um mandato político em nossas mãos. Certamente seria a oportunidade de por em prática a política tão almejada por nós, em contraversão a àquelas que criticamos ferrenhamente quanto estávamos à frente dos movimentos sociais.

Critiquem a vontade, mas não é ilegítimo que um líder de um movimento busque um mandato, isso não o torna indigno, pelo contrário o faz merecedor e capacitado para tal missão.

Mas eu entendo nossos nobres colegas que elaboram essas críticas, a culpa de tal pensamento não é de vocês, foi à classe dominante que nos fizeram acreditar que só poderá ter um mandato aquele que tem recursos financeiros para isso, ou mesmo aqueles que nascem em famílias que tem trajetória na política.

Fiquem a vontade para nos criticar, para nos colocar em suas miras, e para nos julgar. É um risco que corremos quando nos dispomos a ser diferentes, é um risco que corremos quando elaboramos discursos libertadores, quando nos lançaram lideres de movimentos sociais e quando aceitamos tal fardo. Mas peço, que humildemente, que analisem o pensamento hipócrita de vocês, que pregam uma política participativa, democrática, libertadora, mas na prática não passam de seres movidos pelas paixões de cores, que buscam a eternização de uma política que massacra o pequeno e que humilha os frágeis.

Não paramos por aqui, e nem nos entregaremos tão facilmente à luta é contínua.

Os fóruns são os espaços daqueles que buscam a mudança, e não daqueles que com hipocrisia se acham donos de uma ideologia socialista.

Viva aos movimentos sociais de Apodi e, viva ao Fórum de Entidade, ao Fórum de Juventude e ao Fórum das Associações Rurais que proporcionaram o inicio dessa mudança, que aos poucos se faz concreta e cada vez mais próxima.



Jerlândio de Lima Moreira
Presidente do Fórum de Juventude de Apodi

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